.... estamos anestesiados....

on sexta-feira, 20 de maio de 2011

É esse  vídeo de alguns minutos que por esses dias vem me cutucando à reolhar para o espaço que hoje lido 10 horas por dia: A ESCOLA. De tantas coisas pontuadas, diria que minhas viagens, minhas relações se fazem no momento em que o vídeo fala do sujeito carregado de informações, de novidade(sim, eu sei que estamos cansados de ouvir isso, mas não desista de me ouvir, de ler).


 É o excesso de mudanças, de “evoluções”, que hoje me  faz  rever  as propostas de aula quando observo sujeitos cada vez mais impacientes, sem vontade de ouvir e de permanecer nas atividades . Ai professora que Preguiça.. Para quê?? De novo, já fiz isso uma vez!!  Em cinco minutos... Cansei!
Não achem que isso é um olhar desanimador de minhas passagens em salas de aula, ao contrário, essa é uma realidade que me instiga entender o que essas crianças-adolescentes tem prazer em conhecer, em viver, em experimentar. São momentos em que tento tocar, criar minutos de escuta, de reconhecimento de vontades e, mais do que isso, tento instigar a necessidade de ir além, de saber e querer se posicionar mais. Desculpe o uso da palavra, mas gostaria de ver crianças-adolescentes com tesão em CRIAR(algo tão difícil quando não damos tempo de experimentar os momentos, de saborear as coisas que vivemos, de abrir espaço para uma escuta, para outros encontros). 
E assim, nessa aventura de olhar para a correria e a falta de tempo da sociedade moderna, que essa minha questão vai além e me cutuca a repensar minha vida, a mania de estar sempre fazendo,falando, correndo... .

Pensando no tempo que me dedico a me ouvir, a pausar, gostaria de compartilhar algumas questões: Quando nos damos tempo para sentir outras sensações? Qual é o tempo que dedicamos ao ”não fazer”, a ouvir as necessidades que o corpo pede, grita?

“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção,um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.”Trecho do artigo Notas sobre a experiência e o saber da experiência- Jorge Larrosa Bondia)




Abraços gelados!!
Ludmila

4 comentários:

Raquel disse...

Estas questões estão presentes também no meu cotidiano, dentro e fora da escola. Na ânsia por fazer fazer fazer esquecemos de dar tempo para as coisas acontecerem. Normalmente tento acalmar a mim mesma, diminuir a minha correria de tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo, processar as informações, torná-las realmente experiência, frisando o que Jorge Larrosa Bondía fala neste texto que você cita e que revejo e repenso sempre, pois não cansa de me chicotear, de dar motivos para ter paciência e para viver cada coisa ao seu tempo.
" A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece".
Sinto, na escola, que quando "acalmo" a vontade de fazer fazer fazer, permaneço mais disponível para perceber o que os alunos já trazem consigo e justo aí rolam as "sacadas", como diz a Gladis. Ao trabalhar com o que emerge dos alunos e já está ali presente na aula (só precisamos perceber e entender como utilizar, acontecem as propostas onde os alunos ficam PRESENTES por mais tempo e ai sim sinto que a experiência está mais próxima.
O vídeo deixa muito forte em mim a reflexão sobre "anestesiar os alunos". O que me parece mais recorrente nas escolas, é a tentativa de aquietar as crianças e adolescentes. Esse aquietar que percebo, na minha cabeça, as vezes se confunde com podar e até padronizar.

Lud, bom trocar essas reflexões com você, vamos fazer isso mais e pessoalmente também! rsrs

Abraços,
Kel

Mabile borsatto disse...

ESTAMOS ANESTESIADOS????

A primeira ideia que me vem à cabeça é que sim. Apesar de desejarmos o contrário e de ter este item tão belamente exposto em nossos objetivos educacionais, a maioria das escolas está muito mais para estimular a reprodução do que a criação.

Mas vamos lá, essa criança precisa ir pra escola. E lá existem regras, um planejamento a ser seguido e conteúdos a serem trabalhados em todas as áreas de atuação.

Ah! E não é permitido inventar muita moda! Lá, antes de serem crianças, são alunos (os tais sem luz), portanto precisam aprender e apreender muitas coisas que ainda não sabem. Precisam entender conceitos, colar bolinhas de papel, pintar máscaras de coelhinho da páscoa, compreender as bases de apoio e obedecer às regras.

Quanto mais crescem mais elas param de inventar moda. Não porque elas não gostem. Elas ainda gostam muito, mas deixam de lado porque entendem que precisam aprender as coisas importantes que se aprende nas escolas. A aula de artes e educação física são as que elas mais gostam porque nessas aulas elas ainda podem inventar moda. Realmente estamos matando a criatividade.

O que faremos então??? parece que essa anestesia é das fortes.

Acredito que temos que olhar para tudo isso com bons olhos e saber dialogar com essa falta e excesso que nos atropelam a todo o momento.

Compartilhar sem impor, olhar sem julgar, trocar sem ultrapassar e principalmente lembrar o que há muito tempo esquecemos:


Escola é lugar de dúvida, prazer e de criação de perguntas.

será que o sistema educacional está aberto para essa troca de poderes????

bjãooo
Mabile

Cezar disse...

Gosto muito de buscar a origem das palavras e fazer delas uma relação com o momento presente. Vejam que interessante: da palavra "estesia" deriva a nossa "estética", um conceito indispensável para pensar a arte. "An-estesia" é, nada mais, nada menos, do que a ausência da estesia, do valor estético presente nas coisas. Diagnosticar déficit de atenção, hiperatividade etc em alunos e controlar com remédio é exemplo claro de retirada da fruição estética, quando dizemos que o aluno, sob esses remédios, fica anestesiado. Da mesma forma, se falamos de uma escola que apenas reproduz em vez de recriar, também podemos usar essa ideia de supreessão da "estesia": anestesia.

Abraço

Cezar Tridapalli

Gladis disse...

Adorei mapi teu comentário. Muito bem articulado e escrito. Wonderfullllllllll
E aproveito para retomar a pergunta para o nosso universo interpessoal, entre pessoas do nosso cotidiano: como convivemos, compartilhamos experiências sem impor? como olhamos o outro sem julgar?
Muitas vidas vidas ainda precisamos viver para conseguir alcançar.
bjão Gladis

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