¿Sujeito ou Objeto?

on quarta-feira, 25 de maio de 2011

Kim in rhinestones. Goldin, Nan.
Man naked. Arbus, Diane.
























A primeira fotografia foi tirada por Nan Goldin, a segunda por Diane Arbus. Começo o texto com elas pois acredito que me ajudarão a tocar numa dúvida ética/estética importante (que espero podermos juntos esboçar respostas).

Nan Goldin saiu de sua cidade natal em 1978 e foi morar em Manhattan junto de seu melhor amigo, que a introduziu na cena gay e transexual da cidade. Goldin, que fotografava seu cotidiano e entes queridos desde os 15 anos de idade, naturalmente transformou seus novos amigos e parceiros da boemia em personagens de suas fotografias. 







 Alguns anos antes Diane Arbus também havia fotografado o mesmo universo:   

Segundo Goldin, as drag queens odiaram o modo como Arbus as representou, pois “ela (Arbus) não respeitou o modo como elas queriam ser. Ela tentou tirá-las de suas identidades. Arbus é genial, mas seu trabalho é sobre ela mesma. Cada fotografia é sobre ela mesma. Nunca respeitando o modo de ser da outra pessoa.”

Mas, afinal, não é sempre assim? Não estamos sempre falando sobre nós mesmos? Ou conseguimos olhar para o outro e enxergá-lo de fato?

Estas perguntas não são retóricas e teóricas, pelo contrário, emergem da prática e por tanto pedem alguma(s) resposta(s).

Pois há alguns anos venho registrando o cotidiano de familiares e amigos com o intuito de fazer um filme, e há poucas semanas fiz uma primeira exibição com o esboço do material pré-editado. Após assistir ao filme os amigos e amigas, travestidos de personagens, manifestaram-se desconfortáveis em tal situação. Não se sentiram devidamente retratados na narrativa, alguns viram-se como marionetes que proclamam o meu discurso, não tendo direito à voz própria.

Não sei como responder à esta demanda. Se tento me debruçar mais sobre a subjetividade de cada um, com o intuito de criar um retrato mais complexo da experiência narrada. Ou se assumo radicalmente que o foco não está nos objetos em frente à câmera, mas sim no ponto de vista desta câmera.

Não sei se tento enxergar os objetos do meu discurso, ou se assumo a cegueira e faço dela o próprio objeto!

Através das fotos de Nan Goldin vislumbro uma possível resposta: nem só ela, nem só os amigos, nem só a câmera. Suas fotografias parecem acontecer justo no entrecruzamento destas três esferas.

 Se estas perguntas os intigarem respostas, ficaria muito feliz em lê-las!

abraços,
Jessica.



ps:


Termino o post  com estas duas imagens, lembrando da frase tantas vezes dita de que uma câmera ligada é uma intimidade violada. Ao ver estes dois autorretratos penso que escolher-se como objeto de sua própria arte tem uma parcela de narcisismo, mas à ela se soma outra de certa generosidade ao oferecer-se como o objeto a ser violado. O que acham?





 

3 comentários:

joubert disse...

jessica

nunca me travesti, mas quero um dia. necessidade, vontade ou desejo?
talvez fetiche = artificial, fictício.
quando criança, fazia isso, lembrei agora, brincadeira de criança, tem a ver com forjar uma outra identidade.
o carnaval é libertário nesse sentido, pessoas travestidas.
somos nós mesmos no dia-a-dia?
mudar a pele feito cobra.
mas só isso não adianta.
encanta-me sentir a transformação.
ser outro para nós mesmo, auto-(re)trato.
subjetividades, subversões, submergir.
movimento do/para o oposto em nós.
castração às avessas já que o masculino se travesti mais, fazer o truque.
ser objeto de si mesmo é admitir selfs.
androgenia não é meu forte, logo, só muita maquiagem.
idéias travestidas...

Mabile disse...

Jeje

Não estamos sempre falando sobre nós mesmos?

Creio que Obra-Autor-Espectador como coexistência de sujeitos e objetos entrelaçam suas posições em meio aos deslocamentos que não se produzem sem que uns atuem sobre os outros. Lidamos com uma abertura que caminha através das irreverências, das aproximações e apropriações, caminha sobre a indeterminação, a surpresa e o incômodo.
O espectador e o criador experimentam um processo dinâmico, transitam entre outros olhares e julgamentos, (re) organizam a arte de acordo com seu ponto de vista, respondendo as suas vontades e necessidades.

mas afinal, quem olha e quem é olhado???

bjo
Mabile

entretantas produz disse...

Hoje consegui ler teu texto. Que legal. Mas sobre teu filme e o lance de que algumas pessoas não se viram lá como elas são no filme, tenho algo a dizer. Mesmo sendo um documentário, penso eu, desculpe se me engano, é ficção. Enfim, é isso que fazemos. Não tem como ser fiel a realidade. Isso é a vida real e a arte lida com isso, mas vai além. Siga teus aléns. Qdo vi o trabalho da Pina Baush falando do brasil. Achei que ela não retratou o país que eu vivo. Imagine, u queria que ela olhase com meus olhos rsrsrs. Depois esqueci e entrei na dela, sentindo o que ela tinha para me propor, com DANÇA, sobre o meu país. Beijo. To louca para ver esse filme.
Gladis

Postar um comentário

Seguidores