on segunda-feira, 4 de julho de 2011
Tenho notado que muitos artistas da dança praticam alguma outra atividade voltada ao corpo, além da dança. Essas atividades vem auxiliar nossas práticas artísticas e cotidianas, geralmente com o propósito de diminuir tensões e estresses do dia a dia, evitar mal-estar provocados pela desorganização do corpo e claro, melhorar nossa capacidade performática.

Não acho necessário discutir aqui a importância de tomar cuidados para garantir um corpo saudável, disponível e potente, acho isso fundamental para qualquer pessoa. Interessa-me neste momento pensar sobre as maneiras que encontramos para isso, cada um com suas particularidades, necessidades e modos distintos de lidar com essas práticas corporais.
Nas minhas idas e vindas por algumas aulas e técnicas diferentes, sempre volto a me perguntar se com dança (dança recheada de escolhas e experiências particulares e coletivas e por isso não “só” com dança, mas dança com tudo o que faz parte desse entorno) já não damos conta de nos reorganizar, desorganizar, expressar, aprender, criar, experimentar, sossegar, inquietar...ou seja lá o que estejamos precisando em determinado momento.
Acho bem possível. Mas saliento a necessidade de sair do individual ou lugar comum e nos disponibilizarmos para mover de modos diferentes (seja na dança ou em outras atividades), nos colocarmos sob outros olhares, alheios, com outros pontos de visão.

Por fim fica a curiosidade...

Você pratica alguma outra atividade, além da dança como suporte ou auxilio para seu corpo e seu trabalho artístico? Por quê?

...e uma questão de 2008, que encontrei rabiscada junto com um resumo do livro “O Corpo tem suas razões”, de Thérèse Bertherat:

Como podemos pensar a consciência corporal no nosso dia a dia? Somos capazes de pensar e corporalizar esta consciência nas atividades cotidianas?

Abraços
Raquel Bombieri

3 comentários:

entretantas produz disse...

Você pratica alguma outra atividade, além da dança como suporte ou auxilio para seu corpo e seu trabalho artístico? Por quê?

Raca querida! sinto que nessa pergunta, as palavras suporte ou auxílio estão com um tom estranho...corpo separado do fazer. No entanto, lendo teu texto ufa! comprendi melhor o que você está pensando, mesmo discordando do modo como essa pergunta foi construída. Quem sabe pense em reformulá-la a fima de que esse dualismo não esteja presente. Mas vamos a minha refelxão como resposta:
Penso que ser artista é viver em permanente estado criativo. Então, quando estou criando/ensaindo um trabalho,aos poucos pelo modo como organização do corpo, espaço, tempo, vai acontecendo para discutir questões, percebo necessidades de...o que é preciso fazer para o corpo dar conta de processos específicos de criação ou melhor o que o corpo tem vontade de fazer além da criação no estúdio. Nessa perspectiva, crio procedimentos para desenvolver tais habilidades, que podem ser tais como força, equilíbrio, resistência, etc.etc.mas também podem ser dhabilidades como olhar o outro, ler, escutar, etc..
Procuro achar em ações paralelas, mas que dizem respeito ao mesmo corpo Gladis. Andar de bicicleta, correr, caminhar pelas ruas, aparecem na minha vida, nesse trânsito vida arte. Correr como estado criativo é ir além da busca pela resistência, por exemplo, mesmo que com o tempo isso dá um aputa resistência. Correr como estado criativo inclui observar e ser observado, atualizar a relação internoexterno, inclui muitas coisas que acontecem lá quando estou em cena. Vou dançar o Samambaia novamente, por exemplo e fico em cena quase uma hora. É punk, a respiração precisa estar fluida e não quero mostrar cansaço. Ao contrário a abertura que crio no corpo é de dilatação e não de exaustão. O que é preciso para eu chegar a isso de novo? enfim. Penso que no meu caso, sempre o que é preciso vem do próprio dia-a-dia da pesquisa que tem a ver com minha vida. Não se sabe direito onde começa. Pode ser que a Samambaia veio da rua, da resistencia que criei correndo na ciclovia, vendo tanta gente entre.
Lembro que na minha infância sempre andei de bicicleta e quando viajo gosto de conhecer as cidades a pé. Seja Roma ou interior do Rio Grande do Sul. Gosto de transitar, sentir com a sola dos pés os novos lugares. Então não sei o que vem antes ou depois. O corpo é essa coleção de experiências que se entrecruzam. Arte e vida é fluxo do mesmo fluxo, do VIVO.
Quem sabe swingnificado venha um pouco desse novo lugar que é ver a Olívia me copiando rsrs Não sei se respondi a pergunta, mas fica por aqui minha palavrinhas. Valeu por provocar essa reflexão!
bjão
Gladis

entretantas produz disse...

Sobre consciência corporal?
Fiz algumas técnicas de consciência e as considero bem importantes e de alguma maneira, como princípios, elas se fazem presentes no modo de viver/dançar.
Mas para mim consciência, como autoconhecimento, sempre foi um modo de subversão. Qdo passei a me conhecer melhor, passei a entender que os tempos são diferentes e o modo como nos adaptamos a realidade também. Como criamos outras realidades também é diferenciado. Ter consciência disso é a primeira mudança.
Agora, de uns anos para cá, percebo que consciência corporal só pode se dar no dia-a-dia. Consciência é existência.
Subversão? sim rsrs. O corpo acusa quando não consigo me adaptar e por isso o corpo padece. Então é preciso agir. Consciência é ação.
Se eu soubesse disso antes rsrs eu não teria feito xixi, nervosa escrevendo no quadro, na quarta série, ou minha mãe não teria sido chamada mil vezes na escola, para dizerem que eu corria no recreio, com os meninos, até cair e bater a boca ou sangrar os joelhos. Por que será?
Nem todos os corpos conseguem ficar sentados por quatro horas consecutivas. Nem todos os corpos se relacionam com as coisas do mesmo modo: escola, família, instituições outras a fora.
E quando descobrimos isso a tempo, sem desrespeitar formatos, pessoas, ideias, começamos a criar jeitos diferentes de se relacionar.
Hoje sem medo de passar mico, levanto no meio da aula de inglês e alongo os braços e enrolo a coluna. Peço licença para ir no banheiro só para dar uma volta e respirar lá fora.
Hoje sei e entendo quando o meu corpo acende luzes de alerta. Alerta! Sei quando o computador vira pressão. Qdo me obrigo a fazer coisas que não precisa. Sei qdo a pressa não combina. Qdo ficar sentado por horas me causam dor e tranco a respiração. Quando não saber dizer não é um problema. Enfim alertas!!!
Ontem sai do ensaio do Swingnificado e minha cabeça começou a pensar pensar pensar sobre o futuro do trabalho. Sei que é um alerta, quando as ideias começam a girar girar de um modo sufocante - sei onde isso pode chegar. Então, fui para rua vagar, observar as pessoas acontecimentos acontecimentos mundo. Prestar atenção nos estranhos outros, tão próximos e tão distantes, me faz o pensamento verticalizar, a respiração voltar a um normal, meu normal.
Consciência para mim está nesse lugar. Num lugar em que a gente se torna o nosso próprio detetive na busca de autoconhecimento implicado no conhecimento do outro, do mundo, para agir de maneira mais coerente na coletividade e principalmente para viver melhor como indivíduo.
Consciência como subversão está no achar lugares de escape, de desvio de certos comportamentos que os outros ou nós mesmos nos impomos. Achar outros jeitos de fazer as mesmas coisas. Isso se dá no dia-a-dia. Não gosto de comer rápido ou ficar sem almoço, nem me despencar toda desajeitada para não chegar atrasada, nem sair sem alongar depois do ensaio. Não gosto de dirigir carro. Consciência para mim está relacionada a pequenas coisas como correr, parar, parar, mudar a ordem, deitar no chão e sentir a coluna pesar, quando perco o sono, lavar a louça pensando no que as escápulas fazem, esperar na fila do banco contando qtas cores vermelhas existem no espaço. Andar de bicicleta. Sentar de frente para o mar e sentir o ventinho. Brincar de estátua.
Consciência tem a ver com o exercício de olhar nos olhos qdo alguém fala, de escutar o que o outro tem a falar prestando realmente atenção nas palavras ditas. Escuta? Escuta. Qdo existee escuta de verdade, seja do outro ou da gente mesmo, é inevitável a transformação, o embate, a crise, a dor também.
Consciência é transformação. É transformação, alteração.

outro beijo
Gladis

Raquel disse...

Oii Gladis!

Que delicia ler isso que você escreveu!!!

Me provocou a ceder à mim mesma, no sentido de entender ou aprender a entender o que eu preciso em determinados momentos e as vezes abrir mão de coisas alheias, que parecem mais importantes, mas que não fluem quando estou atolada, desajeitada e precisando dar uma sacudida na poeira. Bem como você, fazer coisas tipo andar de bicicleta, sentar no sol com os gatos e comer “vergamotas” (como se fala lá em São Lourenço do Oeste), subir um morro para ver o por do sol, arrumar o guarda-roupas, procrastinar um pouco... as vezes é isso que me atualiza, me dá a sensação de novamente disponível e disposta para as coisas do dia-a-dia, para conseguir viver, criando, relacionando, atenta ao que acontece aqui e ali, nos trânsitos dentrofora.
Confesso que demorei alguns dias para conseguir escrever aqui, porque cada vez que leio o texto e o que você escreveu, acabo chorando, vem um monte de lembranças, um monte de coisas que já aprendi sobre mim mesma e mais um monte de coisas que ainda preciso aprender a lidar.
Que bom que esse aprendizado dura a vida toda... que cada dia descubro quais são as minhas válvulas de escape, quais são meus gostos, minhas vontades e minhas não vontades, porque todo dia elas também estão diferentes. Vou sacando, todo dia, que é preciso ouvir o que se passa aqui... sinal de alerta, perguntas, respostas, coisas que eram e já não são, as transformações, as coisas que preciso fazer por mim mesma.
Enfim, muito obrigada Glá por compartilhar e dar continuidade a reflexão.

E sobre a pergunta...claro, rsrsr!
Agora, olhando novamente para a pergunta, concordo que esse dualismo que separa o corpo aparece no modo como organizei a frase e não concordo com ele também, rsrsrs. Acho que este dualismo ainda esta muito presente em alguns modos de falar, escrever, etc e é bem importante tomar sempre esse cuidado, para não afirmar coisa que não faz sentido. Mas ufaa, o equivoco esta no modo que coloquei a ideia e não na minha intenção. Rsrsrs

Vamos a reformulação, talvez assim fique mais adequado (?): Você pratica alguma atividade, além da dança, afim de atualizar sua organização corporal e melhorar sua performance artística?

Beijoooo
Raquel

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